Fernando
Pessoa amplifica os efeitos do imaginário e do paradoxo, do dizer uma coisa que
sugere ou significa outra. Na autobiografia sem fatos a “máscara” é Bernardo
Soares. O semi-heterônimo e semi-ortônimo de Pessoa é apresentado como um
guarda- livros da cidade de Lisboa.
À
luz de Dostoiévski, Fernando Pessoa
se auto - fragmenta e seleciona Bernardo Soares como transmissor desse
sentimento desassossegante. Sua obra filosófica reflete o enigma que é sua alma
e suas reflexões surpreendentes, que são insuportavelmente além da
originalidade e aquém de uma postura puramente poética.
Após
exames textuais descobriu-se que Bernardo Soares, o narrador principal, mas não
excluso do “Livro do Desassossego”
era próximo de Pessoa; muitas de suas reflexões, principalmente as existenciais
de Soares fariam parte da autobiografia de Pessoa. A obra magistral de Fernando
Pessoa, o “Livro do Dessassossego”
dialoga com inúmeros outros textos de Fernando Pessoa e outros ilustres autores
como Cesário Verde, Homero, Mallarmé, Salomão, Victor Hugo, sem deixar de
mencionar os seus heterônimos Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis.
A
máscara semi-heteronímica de Pessoa, Bernardo Soares foi sua aposta (uma
maravilhosa e desassossegante aposta). Além de assumir o controle do Livro do
Desassossego, Soares quase se apoderou de uma importante fase poética de Pessoa
– ele mesmo. Bernardo Soares como os outros Pessoa sofre da solidão de um ego
ausente, de um desassossego, um significante formalmente desassossegado.
Bibliografia:
CAVALCANTI FILHO, José Paulo. Fernando
Pessoa: Uma quase autobiografia / José Paulo Cavalcanti Filho. Rio de
Janeiro: Record, 2011.
PERRONE- MOISÉS, Leyla. Fernando
Pessoa: aquém do eu, além do outro/ Leyla
Perrone – Moisés. – 3ª ed. ver. e ampl. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
PESSOA, FERNANDO. Livro do
desassossego: composto por Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros na cidade
de Lisboa. Organização Richard Zenith. 3ª ed- São Paulo: Companhia das
Letras, 2011.